ENTREVISTAMOS UM ECONOMISTA, UM CONSULTOR FINANCEIRO E UM DIRETOR DA FUNDAÇÃO ITAÚSA PARA FAZER UMA RETROSPECTIVA ECONÔMICA DO ANO E O QUE ESPERAR DE 2024.
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Se há uma palavra que pode definir 2023, essa palavra é incerteza. E este é um território difícil para economistas, investidores e gestores tomarem decisões mais assertivas. Alguns fatos foram marcantes. A economia chinesa registrou deflação. Nos Estados Unidos, a quebra de bancos, como o Silicon Valley Bank e Signature Bank, e juros acima das médias históricas. No Brasil, dificuldades enfrentadas por redes varejistas, agitaram o mercado no início do ano. Com tudo isso, porém, o PIB nacional deve fechar pouco acima do esperado e a inflação pouco abaixo da expectativa. O que representa uma boa notícia para os brasileiros.
O mercado, na opinião de Thomas Wu, economista-chefe da Itaú Asset Management, trabalhou com dados muito voláteis e insuficientes para acertar a tendência de alta ou de baixa sobre a inflação e a atividade econômica. Se uma sobe e a outra cai ou vice-versa, sinaliza o movimento do Banco Central para os juros e o movimento dos juros influencia a escolha da carteira de investimentos.
Crescimento, contrariando expectativas
A falta de alinhamento destes elementos, ou “planetas”, como ele prefere, é que deixou o mercado sem orientação. “Se em 2022, alguém falasse que os juros americanos chegariam a 5,5% e no Brasil a Selic a 13,75% até o segundo semestre, o mercado esperaria recessão. Mas isso não aconteceu. Pelo contrário, houve crescimento”, diz Wu. Este cenário gerou tensão entre os gestores de carteiras de investimentos. “Eu não me lembro de um ano assim”, completa.
A neblina que turvou a visão do mercado é reflexo, de acordo com Wu, das mudanças provocadas pela pandemia, por exemplo, no mercado de trabalho, afetando a economia. “Mais pessoas, por diversas razões, tomaram a decisão de não voltar a trabalhar”, comenta. “Aconteceu muita coisa (em 2023), mas a gente não saiu do lugar.”
Imprevisibilidade: rebote da pandemia
O sócio e diretor técnico da Aditus Consultoria Financeira, Guilherme Benites, concorda que a imprevisibilidade é “um rebote da pandemia” e acrescenta que a “grande estrela” de 2023, entre todas as variáveis, foi a alta dos juros nos Estados Unidos.
Segundo ele, houve uma alternância de expectativas a cada trimestre. “Em um momento o mercado achava que a coisa estava mais ou menos resolvida, em outro achava que não, depois achava que sim, a coisa está resolvida de novo”, diz. Por conta disso houve nervosismo, mas sem pânico, na análise de Guilherme. “Sentimos uma turbulência, que deu frio na barriga em alguns momentos, mas o piloto não precisou
desviar da rota.”
Por esta metáfora, o “pouso na pista 2023” deve ser seguro. Mas o que esperar para 2024, ano em que haverá troca de comando no Banco Central? Thomas Wu, que também gosta das metáforas, responde: “A grande dúvida é como se dará o realinhamento dos planetas na questão da atividade econômica versus inflação.” A incerteza, então, deve continuar no próximo ano.
Maratona x prova de 100 metros
Já para os participantes dos Planos PAI e BD, há duas certezas. Uma delas é que eles podem confiar na gestão da Fundação Itaúsa Industrial. Outra é pensar no longo prazo. “Previdência é uma maratona e não uma prova de 100 metros”, afirma o diretor da FII, Herbert de Souza Andrade. Portanto, um eventual resultado abaixo do esperado em um período específico pode ser compensado pelo tempo total.
Herbert diz que, apesar da volatilidade do mercado, há boas expectativas para os participantes. “Devemos terminar o ano com perfil agressivo como destaque, o conservador com boa recuperação, especialmente no segundo semestre e para o moderado, podemos dizer que o copo ficará meio cheio.”